O Blog da Isaurinha

«Arriscar-se é perder o pé por algum tempo. Não se arriscar é perder a vida» S. Kierkegaard

domingo, dezembro 14, 2008

Parte II


Capítulo Um
“Holly encostou a camisola de algodão azul de encontro à face e o cheiro familiar feriu-a imediatamente, uma dor devastadora dando-lhe um nó no estômago e partindo-lhe o coração…O pânico instalou-se. Para além do zumbido baixo do frigorífico e do gemer dos canos, a casa estava em silêncio. Estava sozinha….
Gerry partira e nunca mais iria voltar. A realidade era essa. Ela nunca mais iria deixar correr os seus dedos sobre o suave cabelo dele, nunca mais partilharia uma piada secreta por cima da mesa num jantar de festa, nunca mais iria choramingar quando chegava a casa do trabalho e apenas precisava de um abraço, nunca mais iria partilhar uma cama com ele, nunca mais seria acordada pelos seus ataques de espirros em cada manhã, nunca mais ririam tanto os dois que o estômago acabava por lhe doer, nunca mais poderia discutir com ele de quem era a vez de ir tomar banho primeiro. Tudo o que restava era um monte de memórias e umas imagens da cara dele que se ia tornando mais vaga cada dia que passava.
O plano deles fora muito simples: ficar juntos para o resto das suas vidas. Um plano que qualquer pessoa do seu círculo concordaria ser praticável. Eles eram amigos íntimos, amantes e almas gémeas destinadas a ficar juntos, pensavam todos. Mas o que aconteceu foi, um dia, ….”
Epílogo
“Holly sorriu para si própria enquanto se sentava à mesa, esperando que ele trouxesse as bebidas. Parecia simpático. Descontraiu-se, inclinou-se para trás e ficou a olhar através da janela daquele frio dia…Pensou no que tinha aprendido, quem ela fora dantes, e em quem se tinha tornado. Era a mulher a quem tinham sido dados conselhos por um homem que amava, que se tinha empenhado ao máximo ajudá-la a curar-se. No momento presente tinha um emprego…Era uma mulher que cometia erros, que às vezes chorava numa manhã de domingo, ou à noite sozinha na cama. Era uma mulher que muitas vezes ficava aborrecida com a sua vida e achava difícil levantar-se de manhã para ir trabalhar. Era uma mulher que, na maior parte dos dias, se sentia com um aspecto horrível, que olhava para o espelho e perguntava a si mesma porque é que não se arrastava mais vezes até ao ginásio, era uma mulher que às vezes odiava o seu trabalho e se questionava por que motivo tinha de viver neste planeta. Era uma mulher que às vezes percebia mal as coisas.
Por outro lado, era uma mulher com memórias felizes, que sabia o que era experimentar o amor verdadeiro e que estava pronta para experimentar mais vida, mais amor. Construir novas memóras. Que isso acontecesse em dez meses ou dez anos….O que quer que estivesse à sua frente, sabia que iria abrir o coração e segui-lo para onde ele a levasse.
Entretanto, limitava-se a ir vivendo.”
Demasiadas semelhanças com a realidade. Holly sabia o porquê. Isaura não. Por isso ainda não está pronta para experimentar mais vida.

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial